Histórias inspiradoras de mulheres reais - Clarissa
- Nathalia Duval
- 2 de nov. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 7 de nov. de 2020
"Oi, meu nome é Clarissa, e eu sempre fui magra. E todo mundo comentava isso. Eu comia pouco e tinha muita sorte por isso. Eu recusava sobremesa e “nossa, que elegante!”. E não era difícil pra mim, eu comia tudo o que queria, e não comia quando não sentia fome. Eu apenas era magra, naturalmente magra, e era admirada por isso. Tanto que, em determinado momento, essa se tornou minha mais importante qualidade na minha cabeça. Tinha várias coisas que eu não gostava sobre mim, mas pelo menos eu era magra. Eu tinha muitas dúvidas, mas sempre a certeza de que eu era magra e que, portanto, tinha valor.
Eu nunca aprendi a comer salada, porque comer salada era coisa de quem fazia dieta. Eu era sedentária, porque se obrigar a fazer exercício era coisa de quem precisava emagrecer. Eu era abençoada com a genética da magreza, e nada poderia me derrubar. Eu tinha tudo que precisava pra ser feliz.
Até que... fiz 20 anos. Um metabolismo que não era mais o mesmo, uma nova rotina mais agitada e diversos outros fatores me fizeram engordar alguns quilos, e eu comecei a inchar com mais frequência. Foram 5 quilos. De maneira nenhuma deixei de ser magra, mas já não me considerava merecedora da admiração e da inveja das pessoas por isso. E se eu não era uma magra exemplar, quem diabos eu era? Tantas pessoas sofrendo gordofobia e fazendo dietas horríveis pra perder 15, 20, 30 quilos, e eu não era capaz de me esforçar um pouquinho pra perder 5?? Tanta gente acordando feliz às 6 da manhã pra correr enquanto eu comia um xis depois da festa?? Que lixo de pessoa eu era! Eu tinha tudo a meu favor e tinha permitido que minhas coxas encostassem uma na outra e minha barriga fizesse volume nas roupas. Isso nunca tinha acontecido. Aquela não era eu. Aquela pessoa não valia nada.
Eu não sabia como perder peso, então fui me punindo. É isso que as pessoas fazem, certo? Cortei o pão e o doce. Me sentia culpada toda vez que comia massa. Passava 8 horas sem comer. Ia dormir com fome pra não fazer mais de 2 refeições por dia. Fazia academia motivada pelo ódio ao espelho, e cada vez mais frustrada porque o sacrifício não trazia resultados imediatos. Comecei a ressentir todas as comidas que eu gostava, me convencendo de que não gostava tanto assim. Tentei de tudo pra voltar a ser a menina de 13 anos que comia meio prato e recusava sobremesa.

💜 Até que, em um raro momento de auto amor, me dei conta de que eu era uma mulher adulta, que tinha muito a oferecer, e que estava desperdiçando energia lutando uma batalha que nem fazia sentido. Como se não bastasse, estava fazendo mal pro meu corpo no processo, e me sentindo cada vez mais desconfortável. Precisava de ajuda.
💜 Cansei de carregar a culpa junto com os quilos que não estavam indo embora. Estava exausta e nem um pouco saudável.
Eu sabia que se fosse em uma nutricionista “tradicional” ela me mandaria comer várias coisas que eu não gostava e contar calorias, então busquei a linha comportamental.
💜 Procurei fazer as pazes comigo e melhorar meus hábitos alimentares não como um castigo, mas pensando no que me daria prazer e me faria bem ao mesmo tempo.
Quer saber? Não perdi os fatídicos quilos. Mas esse não era o objetivo, eu só queria me reconhecer no meu corpo, aceitar que ele não está errado só porque mudou.
Tento entender o que faz o meu corpo reagir de cada forma e dar esse espaço pra ele.
💜 Estou aprendendo a valorizar tudo que ele consegue fazer, e encontrei exercícios que me dão prazer de verdade, onde posso me desafiar e comemorar vitórias que não necessariamente tem a ver com perder centímetros de cintura.
Estou constantemente aprendendo a reconhecer meu privilégio enquanto pessoa magra sem transformar isso em culpa, e me perdoando por ter outras prioridades na vida que me fazem não querer correr todos os dias às 6 da manhã ou almoçar só uma saladinha. Evito me comparar com outras mulheres e medir o sucesso delas por seus tamanhos. Estudei e entendi que ser perfeitamente magra não é necessariamente o que eu quero, mas algo que foi projetado em mim e internalizado com o tempo.
💜 Me amo o tempo todo? Definitivamente não. Deixei de me culpar por comer mais que o necessário às vezes? Também não. Mas vivo mais leve e mais saudável. Consciente o suficiente pra escrever esse texto e capaz de listar dezenas de motivos para ser valorizada que não tem nada a ver com minhas medidas.
💜 A foto é do meu adesivo feminista de carnaval, e também das minhas estrias, do meu braço 0% definido e das gordurinhas nas minhas costas. Mas principalmente de um dia em que me amei o suficiente pra ligar o foda-se, botar um maiô e me divertir MUITO sem medo de ser feliz. E é isso que eu desejo pra mim e pra todas as mulheres lindas e espetaculares que já se culparam por não atender a expectativas impossíveis."
Você se identificou em algum momento? Pois é, nenhum tipo de corpo escapa das pressões estéticas!
Que caminho transformador a Clarissa tem trilhado, não é mesmo?!
E você: consegue listar motivos para ser valorizada que não tenham relação com a sua aparência, seu peso ou formato do seu corpo?
Se, por acaso, isso ainda não for possível para você, está tudo bem, não se culpe. Mas saiba que é possível e você pode buscar ajuda se julgar necessário!
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